terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Django Livre



Western de Quentin Tarantino

Conhecido por seus roteiros originais, carregados de violência e diálogos inteligentes, Quentin Tarantino agora aborda os filmes Wertern Spaghetti, produzidos na Itália, na década de 50. Fã dos filmes de cowboys desde a adolescência, o diretor e roteirista não economizou nas referências a antigos clássicos (como no nome do personagem principal), mas sempre dando uma visão peculiar e com bastante ousadia, característica presente em todos os seus filmes.

O primeiro diferencial do western é o protagonista. Django é negro – fato visto poucas vezes neste gênero cinematográfico – e escravo. O personagem interpretado por Jamie Foxx recebe este nome em referência a um clássico do Velho Oeste, de 1966, que leva o mesmo nome, estrelado pelo ícone Franco Nero. O ator faz uma participação especial na produção de 2012. Tarantino já havia trabalhado com uma protagonista negra, em Jackie Brown (1997), filme baseado no romance pulp Pote de Rum, onde o diretor mudou a cor da personagem principal, que no original era branca. Vale ressaltar a presença constante da palavra nigger (um depreciativo de crioulo) no filme, que não é usada fora de contexto.

O protagonista, que tem as costas marcadas por chicotadas, é comprado pelo carismático Dr. King Schultz, interpretado de forma perfeita por Christoph Waltz, um caçador de recompensas disfarçado de dentista. O falso doutor alemão liberta o seu escravo e os dois iniciam uma parceria para caçar fugitivos e lucrar com os seus cadáveres. Django se torna um dedicado discípulo e no desenrolar da trama vai criando habilidades que vão além da precisão com uma arma. 

O enfoque principal do filme é a busca de Django pela sua esposa Broomhilda, interpretada por Kerry Washington. A bela escrava que fala alemão é castigada, chicoteada e marcada na face direita do rosto, por tentar fugir com o seu marido. O casal é vendido separadamente em um leilão e a moça vai parar na fazenda Candyland, do proprietário Calvin Candie, interpretado por Leonardo DiCaprio.

O fazendeiro é um tipo de caipira milionário metido a aristocrata. Gosta de ser tratado como Monsier Candie, mesmo não sabendo falar francês. A cultura duvidosa do rapaz vem à tona quando, em uma conversa com o doutor alemão sobre ficar longe do idioma e da sua terra natal, ele afirma “não imagino passar nem dois dias em Boston”. Além de sádico e aficionado por mandingo (luta entre escravos), Candie é a personificação da crueldade que era cometida com os negros na época da escravidão. 

O preconceito do fazendeiro esbarra nos seus lutadores, nas moças da casa (que fazem favores não convencionais) e pelo escravo conselheiro Stephen, um Samuel L. Jackson irreconhecível. O idoso é o mais esperto da Candyland e de certa forma, é ele quem dita às regras na casa grande. 

Cenas de humor, como o envolvimento de um grupo que viria a formar o Ku Klush Klan, onde eles reclamam que não conseguem enxergar com as suas máscaras, estão presente em bom número no filme. Os diálogos engraçados e a violência cômica são características do diretor e servem para dar um toque especial para a trama.

A conhecida violência dos filmes de Tarantino, que geralmente é abordada com muita classe, não está ausente. As cenas de tortura dos escravos geraram comentários entre alguns norte americanos, como o diretor cinematográfico Spike Lee. Provavelmente, isso aconteceu por expor fatos encobertos há muito tempo, expostos no filme sem nenhuma romantizarão. O diretor consegue levar para um western o clima tenso e sanguinário de histórias modernas como Cães de Aluguel (1994) e Kill Bill (2003), entrelaçadas por uma ótima e inesperada trilha sonora. Afinal, quem já imaginou assistir uma cena de tiroteio no estilo bang bang ao som de um hip hop?

Com ousadia desde a escolha do tema, Quentin Tarantino lança um filme que veio para afirmar o seu nome na lista dos grandes diretores e roteiristas norte americanos da sua geração. Com cinco indicações ao Oscar (melhor ator coadjuvante, melhor edição de som, melhor filme, melhor roteiro original e melhor fotografia) e dois Globo de Ouro ganhos (melhor ator coadjuvante- Christoph Waltz e melhor roteirista para Tarantino),
Django Livre é certamente um dos melhores lançamentos de 2012.

Cristiano Cabral Marques

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Sessão Particular - Os Intocáveis


Muitas vezes li os mesmos livros em diferentes fases da minha vida e percebi como o senso de percepção se apura (ou não) durante o tempo. O mesmo acontece como os filmes. Ontem assisti pela segunda vez (a primeira foi em 1994) ao filme Os Intocáveis, do diretor Brian de Palma. Como só me lembrava da violência e das cenas de ação, pude finalmente entender o verdadeiro valor do filme.

Ciente que o lançamento do filme data de 1987, não esperava algo tão especial e revolucionário para a época. A produção, a fotografia e o jogo de câmeras, que já impressiona na primeira cena, são de uma qualidade não encontrada em muitas películas do século XXI. A cena clássica do bebê na estação de metrô merece destaque.

Outros pontos fortes são as atuações do quarteto apelidado como intocável: Kevin Costner (Eliot Ness), Sean Connery (Jim Malone), Charles Smith (Oscar Wallace), Andy Garcia (George Stone). Vale ressaltar também o ator Robert De Niro, roubando a cena como o vilão mafioso Al Capone. O roteiro de David Mamet consegue transmitir bem as tensões, raivas e frustrações vividas pelos personagens durante a trama.

Além da cena já citada, a sequência inicial do filme merece destaque. Primeiro uma câmera parada no teto mostra o plano da sala onde o vilão sendo barbeado, cercado por pessoas como seus sócios, capangas e jornalistas. A câmera se aproxima dos personagens e ironicamente, o mafioso afirma não fazer uso de violência. Na segunda cena, aparece uma garotinha indo pegar comida em um estabelecimento. No mesmo local, um “capanga” está oferecendo cerveja para um senhor, dono do local, que logo nega a oferta. O homem se retira, esquecendo uma mala. A criança pega o objeto e corre para entregar ao senhor, sem saber que estava segurando uma bomba que poucos segundos depois explodiria o estabelecimento.

O mais interessante foi perceber que hoje tive uma percepção sobre o filme que seria impossível tê-la aos meus 12 anos. Dificilmente eu teria como degustar das qualidades deste clássico com a mentalidade de quem assistia a cerca de 12 filmes de ação por semana. Assim como os meus antigos livros de filosofia e literatura, a técnica, as atuações e tudo o que merece uma atenção redobrada no filme, são coisas que só com o tempo aprendemos a degustar.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Herdeiros da Pampa Pobre

Foto da primeira urna utilizada no Brasil, afrente do
modelo atual.

    De dois em dois anos o cidadão brasileiro tem o dever de ir às urnas para escolher os governantes do seu país, estado ou cidade. Sabe-se também que além no período eleitoral temos que passar por uma época de troca de farpas e muitas falácias, onde os candidatos têm o direito legal de divulgar as suas propostas e alfinetar os seus concorrentes diretos. Só que neste ano, existe um novo chamariz nas eleições, o extenso número de candidatos filhos de políticos.
    A nova geração de candidatos para prefeito e vereador na Região Metropolitana do Recife está abarrotada de jovens políticos que jamais apareceram ou despontaram em movimentos políticos e que, graças aos nomes dos pais, estão conseguindo algum espaço. Não é raro ver nas ruas de Recife e Olinda cartazes com fotos dos candidatos com políticos famosos á tira-colo lhes passando alguma credibilidade. Porém, torna-se alarmante a quantidade dos preteridos a cargos políticos ao lado dos seus pais.
    O que se vê nos discursos destes jovens são palavras que parecem copiadas das páginas amareladas um dia lidas pelos seus progenitores, até mesmo a postura e o temperamento tendem a ser copiosos. Esta postura visa conquistar o eleitor que um dia votou nos antecessores, gerando comentários do tipo “a política está no sangue dele (a)”, “já cresceu no meio”, ou simplesmente “é a cara do pai”, fazendo dos filhos “a sua imagem e semelhança”!
    Este sistema dá a entender que a política local não está se renovando, mais só está substituindo rostos enrugados por simpáticos jovens que cultuam, compartilham e usufruem de velhas ideologias, como novas marionetes para velhos ventríloquos.
    Como eleitor, fico com uma sensação estranha de que a minha cidade é administrada como uma fazenda no Japão medieval, onde os clãs passavam as suas terras às próximas gerações, ou os cafezais da época colonial no Brasil, onde os fazendeiros passavam as terras para os seus filhos primogênitos.
  
Cristiano Marques

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Hino noturno




Hino noturno

Vinho barato e prosas homéricas
Regem as métricas desta encenação
Prazeres e adornos para um coração
Que ouve a canção das almas histéricas

Cigarro, fumo e entorpecentes
Germinam sementes nunca plantadas
Ao sarjar as mentes mais enfadadas
Curando as feridas dos santos dementes

Cacos de amores ainda sofridos
Que estão embebidos na doce tristeza
Ajudam a aflorar a real natureza
Dos que a incerteza dopou os sentidos

E cambaleantes, rumo a um destino
Em pleno desatino recorrem ao presente
Após encarar com ardor, o sol nascente
Onde a dor persistente se torna um hino

Cristiano Marques




terça-feira, 10 de julho de 2012

No caminhar dos tempos

Em todos os nomes que esqueci
Existe uma perda que não chorei
No leito em que eu adormeci
Não haviam honras de um rei

Em todas as cartas não enviadas
Existe o doce prazer da essência
Ao destruir as noites caladas
Repatriando os jardins da ciência

Mesmo o silêncio tão revelador
Que entorpece uma noite tristonha
Traz-me o reflexo demente da dor
de quem esquece o amor enquanto sonha

Nem todas as flores que aqui secaram
Brotaram de um pântano tão esquecido
onde as estrelas jamais ancoraram
Exala o perfume de um ardor proibido

Cristiano Cabral Marques

sábado, 22 de outubro de 2011

Ouça "Lulu"o novo álbum do Lou Reed com participação do Metallica.



Lou Reed (Velvet Underground) está para lançar um álbum em colaboração com o Metallica, e acaba de soltar o resultado para audição. Trata-se de uma adaptação de uma peça teatral do século XIX que mistura música com poesia.
De início parece esquisito, mais acompanhando as letras e o instrumental (altamente Metallica) torna-se muito interessante. Ouçam e opinem.

http://www.loureedmetallica.com/listen-to-lulu.php

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Metallica in Rio


Ontem foi uma noite de glória para os fãs brasileiros do Metallica, que assim como eu, esperaram bastante desde a confirmação da banda como atração principal do terceiro dia do Rock in Rio. O primeiro dia realmente rock do evento encerrou com uma performance avassaladora da banda, que agradou tanto aos fãs, quanto a quem nem conhece bem o estilo.
Carisma, entusiasmo, alegria e competência foi o que se viu encima do palco mundo. Kirk Hammet estava endiabrado como há muito não se via; Lars parecia que iria explodir atrás da bateria; Rob acentuando as suas já conhecidas e selvagens performances e o James parecendo um garoto de vinte anos encima do palco.
Eu sou daqueles que não conseguiu comprar o ingresso, não estava lá suando a camisa, mais sou um dos que quase enfartou com "Fade to black", passou horas na expectativa e terminou o show com um sorriso abobalhado no rosto e a adrenalina lá encima sem me deixar dormir.
São dias como esses que dão orgulho a qualquer um que se diga adepto da cultura/filosofia chamada Rock'n roll.

Set list:

01. Creeping death
02. For whom the bell tolls
03. Fuel
04. Ride the lightning
05. Fade to black
06. Cyanide
07. All nightmare long
08. Sad but true
09. Welcome home (sanitarium)
10. Orion
11. One
12. Master of puppets
13. Blackened
14. Nothing else matters
15. Enter Sandman
Bis
16. Am I evil?
17. Whiplash
18. Seek and destroy