Muitas vezes li os mesmos livros em diferentes fases da
minha vida e percebi como o senso de percepção se apura (ou não) durante o
tempo. O mesmo acontece como os filmes. Ontem assisti pela segunda vez (a
primeira foi em 1994) ao filme Os
Intocáveis, do diretor Brian de Palma. Como só me lembrava da violência e
das cenas de ação, pude finalmente entender o verdadeiro valor do filme.
Ciente que o lançamento do filme data de 1987, não esperava
algo tão especial e revolucionário para a época. A produção, a fotografia e o
jogo de câmeras, que já impressiona na primeira cena, são de uma qualidade não
encontrada em muitas películas do século XXI. A cena clássica do bebê na
estação de metrô merece destaque.
Outros pontos fortes são as atuações do quarteto apelidado
como intocável: Kevin Costner (Eliot Ness), Sean Connery (Jim Malone), Charles
Smith (Oscar Wallace), Andy Garcia (George Stone). Vale ressaltar também o ator
Robert De Niro, roubando a cena como o vilão mafioso Al Capone. O roteiro de
David Mamet consegue transmitir bem as tensões, raivas e frustrações vividas
pelos personagens durante a trama.
Além da cena já citada, a sequência inicial do filme merece
destaque. Primeiro uma câmera parada no teto mostra o plano da sala onde o
vilão sendo barbeado, cercado por pessoas como seus sócios, capangas e
jornalistas. A câmera se aproxima dos personagens e ironicamente, o mafioso
afirma não fazer uso de violência. Na segunda cena, aparece uma garotinha indo
pegar comida em um estabelecimento. No mesmo local, um “capanga” está
oferecendo cerveja para um senhor, dono do local, que logo nega a oferta. O
homem se retira, esquecendo uma mala. A criança pega o objeto e corre para
entregar ao senhor, sem saber que estava segurando uma bomba que poucos
segundos depois explodiria o estabelecimento.
O mais interessante foi perceber que hoje tive uma percepção
sobre o filme que seria impossível tê-la aos meus 12 anos. Dificilmente eu
teria como degustar das qualidades deste clássico com a mentalidade de quem assistia
a cerca de 12 filmes de ação por semana. Assim como os meus antigos livros de
filosofia e literatura, a técnica, as atuações e tudo o que merece uma atenção
redobrada no filme, são coisas que só com o tempo aprendemos a degustar.
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