quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Charles Baudelaire


Ontem foi o centésimo quadragésimo terceiro aniversário de morte de Charles Baudelaire, poeta e teórico francês que direcionou a escrita ao que pode-se chamar de poesia moderna.
Leitura indispensável para qualquer ser que se julgue apreciador de uma boa leitura, As flores do mal, seu maior manifesto poético, é uma mostra do que vem a ser a sua revolucionária estética e estes poemas a seguir é um dos que me fizeram procurar e conhecer a sua valiosa obra.

O Vampiro

Tu que, como uma punhalada,
Entraste em meu coração triste;
Tu que, forte como manada
De demônios, louca surgiste,

Para no espírito humilhado
Encontrar o leito e o ascendente;
- Infame a que eu estou atado
Tal como o forçado à corrente,

Como ao baralho o jogador,
Como à garrafa o borrachão,
Como os vermes a podridão,
- Maldita sejas, como for!

Implorei ao punhal veloz
Que me concedesse a alforria,
Disse após ao veneno atroz
Que me amparasse a covardia.

Ah! pobre! o veneno e o punhal
Disseram-me de ar zombeteiro:
"Ninguém te livrará afinal
De teu maldito cativeiro.

Ah! imbecil - de teu retiro
Se te livrássemos um dia,
Teu beijo ressuscitaria
O cadáver de teu vampiro!"


Remorso Póstumo

Quando fores dormir, ó bela tenebrosa
Em fundo de uma cripta em mármore lavrada
Quando tiveres só por alcova e morada
O vazio abismal de carneira chuvosa;

Quando a pedra, a oprimir tua fronte medrosa
E teus flancos a arfar de exaustão encantada,
Mudar teu coração numa furna calada
Amarrando-te os pés na rota aventurosa,

A tumba, confidente do sonho infinito
(Pois toda a vida a tumba há de entender o poeta),
Pela noite imortal de que o sono é prescrito,

Te dirá: "De que serve, hetaira incompleta,
Não teres conhecido o que choram os mortos?"
E os vermes te roerão assim como os remorsos.

Um comentário:

Unknown disse...

A poesia de Baudelaire é genial! Excelente post, Cristiano! =)

Abraço,
Ane